segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Facebook é uma terapia

Por que falar sobre a vida pessoal nas redes sociais pode fazer bem

CRISTIANE SEGATTO
Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo. cristianes@edglobo.com.br


Algumas coisas me espantam no Facebook. Uma delas é a forma como as pessoas expõem sua intimidade. Você subiria num caixote na Avenida Paulista, ligaria um megafone e berraria seus sentimentos a quem quisesse ouvir? Coisas do tipo: “Ei, todo mundo aí. Saibam que me separei daquele mequetrefe. Espiem minhas fotos. Estou linda, feliz e muito bem acompanhada. E você, mequetrefe, principalmente você, saiba disso”.

Seria bizarro. No Facebook, porém, as pessoas fazem isso o tempo todo. Outro dia um rapaz postou as fotos da cerimônia de seu segundo casamento. Fiquei constrangida só de imaginar o que a ex-mulher dele (que faz parte da mesma rede de amigos) sentiria ao ver aquilo. Até onde sei, eles tiveram uma separação conturbada. O que essa moça sentiu ao abrir o Facebook no trabalho e dar de cara com as fotos da filha dela, vestida de dama de honra, ao lado da noiva? E o que ela teria sentido ao ler os tantos comentários dos muy amigos?

Antigamente era possível escapar dessas saias-justas. Bastava o rapaz não convidar a ex para o casamento. E a ex não fazer perguntas aos conhecidos, não esticar o assunto. Hoje é impossível. Em tempos de exposição total, as regras da discrição e da boa educação andam meio esquecidas.

Um ou dois dias depois veio o revide. Todos nós (e principalmente o ex) vimos como a moça parece feliz com o novo companheiro. Lá estava ela, namorando na praia, ao lado da mesma filhinha.

O Facebook nos obriga a ver tudo (mesmo que não estejamos preparados para isso) e a fingir que aceitamos tudo. Não consigo lidar bem com tanta exposição. Estou no Facebook, mas sou uma usuária tímida. Fico espantada com a forma como as pessoas revelam tanto de si. Contam tudo a pessoas que sequer viram pessoalmente alguma vez.

Caem na armadilha de imaginar que estão entre amigos. Parecem esquecer que a maioria das redes é formada por amigos dos amigos dos amigos. Faça um teste: para quantos daqueles 300 amigos você poderia ligar se estivesse em apuros? Quantos iriam encontrá-lo na Marginal Tietê em noite de chuva para ajudar a trocar um pneu?

Estou convencida de que o Facebook nos obriga a um tipo de exposição que pode fazer mal. Mas essa mesma exposição também pode nos fazer bem. Revelar inseguranças, medos, dividir momentos difíceis com pessoas conhecidas ou desconhecidas pode ajudar a aliviar o peso dos nossos problemas. Não sou a única a enxergar um caráter terapêutico no Facebook, no Twitter, no Orkut, nos blogs.

Conversei sobre isso com a psicanalista Maria Teresa Lago. Ela mantém um consultório no Rio e tem grande experiência no acompanhamento de doentes crônicos, principalmente portadores do vírus HIV e pessoas que lutam contra o câncer. Maria Teresa estimula os pacientes a participar das redes sociais quando percebe que elas podem ser benéficas. “Somos ilhas, mas as novas tecnologias criam pontes entre essas ilhas”, diz Maria Teresa. “As redes sociais provocam retomadas de relações do passado e criam novas relações.”

Escrever ajuda o sofredor a expurgar sua dor. Foi por isso que Maria Teresa sugeriu, em 2007, que uma de suas pacientes escrevesse um livro. Era a jornalista Eliane Furtado, que fez carreira na TV Globo e na TV Manchete até os anos 90. Há três anos, ela recebeu o diagnóstico de câncer colorretal, com metástases no fígado. Eliane aceitou o conselho e lançou dois livros. Um deles se chama Câncer: Sentença ou renovação? (Hama Editora). Como a experiência deu muito certo, Maria Teresa sugeriu que ela lançasse também um blog.

Nesta semana, o Blog da Eliane comemorou dois anos. Como a autora o define, o blog é “um espaço para cumplicidade, vida e amizade. A superação diante do inesperado mostra que sempre temos escolha...” Nesse período, Eliane fez duas mil postagens. E os leitores, outras dez mil.

Eliane lê as mensagens e posta novos textos todos os dias. Diz que o blog é um apoio muito importante. “Quando conto que não estou bem, as pessoas postam 80 mensagens”, diz. “Minha torcida é maior que a do Corinthians e a do Flamengo juntas.”

Além do blog, Eliane mantém contato direto com seus leitores pelo Facebook. Transmite bom humor e alegria. E emociona. “Acho que as pessoas precisam de alguns heróis anônimos. Elas se emocionam com a batalha de quem tem câncer e gostam de expressar esse sentimento”. Eliane percebe que, nessa troca, é a maior beneficiada. “Todos nós gostamos de mimos. É muito bom saber que as pessoas rezam por mim e me dão tanto carinho”, diz.

O senso comum nos ensina que dividir nossos problemas com os outros só pode fazer bem. Os psicólogos têm razões mais científicas para recomendar essa prática. Há alguns meses conversei sobre isso com o psicólogo Julio Peres. Ele fez pós-doutorado no Centro de Espiritualidade e Mente da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Lançou no ano passado o livro Trauma e Superação: O que a psicologia, a neurociência e a espiritualidade ensinam (Editora Roca).

Peres explica que, quando uma pessoa sofre um trauma, ela se sente covarde em relação ao evento que o produziu. Quem sofre um grave acidente de trânsito, resiste a entrar em um carro novamente. Quem é traído pelo melhor amigo resiste a criar laços duradouros. “Quem passa pela dor, costuma ficar em silêncio”, diz Peres. “E o silêncio potencializa o trauma”.

Expressar o sentimento é fundamental para a superação. Falar, contar e recontar a história ajuda o sofredor a amenizar a ansiedade e substitui-la por coragem. Quando a pessoa conta a história pela primeira vez, a narrativa é toda carregada das sensações pesadas que ela sofreu. Conforme conta e reconta, a carga emocional vai sendo amenizada.

“Devemos contar a história tão bem quanto possível”, afirma Peres. “É muito importante contá-la a quem possa ouvir sem fazer julgamentos”, afirma. Se a pessoa não tiver acesso a um psicoterapeuta, deve contar a história a um familiar, a um amigo, a um líder religioso.

O Facebook, o Twitter, os blogs podem ajudar nesse processo. São ferramentas de comunicação instantânea. Aquele sentimento que mexe com você (e que você mal teve tempo de tentar digeri-lo e entendê-lo) pode ser expresso e dividido com o mundo. E esse sentimento vai tocar os leitores, gerar novos sentimentos e produzir uma cascata de respostas (muitas vezes inesperadas).

Por um lado, isso é bom. Por outro, é ruim. Nas redes sociais nossos lamentos não são ouvidos por orelhas desprovidas de julgamento. Os leitores reagem a nossas mensagens de acordo com suas crenças e preconceitos. Quem se expõe na internet, portanto, precisa estar preparado para ouvir de tudo. Isso nem sempre faz bem.

“Quem sofre quer falar e ser entendido. Um amigo que apenas escuta ajuda mais do que quem dá muitos palpites e contribui para aumentar a culpa ou a angústia”, diz Maria Teresa.

Não acredito que as redes sociais possam ocupar o lugar da psicoterapia. Nada substitui a oportunidade de se abrir com um profissional que foi treinado para ouvir sem fazer julgamentos. E que é capaz de ajudar o sofredor a perceber que ele dispõe de recursos internos que podem levá-lo à superação. Mas se a pessoa não tem acesso a um tratamento desse tipo, acho que as redes sociais têm uma contribuição a dar - apesar de todas as ressalvas feitas nos parágrafos anteriores.

Falar é melhor que guardar. E o Facebook pode nos ajudar nisso. Cada pessoa enfrenta um câncer de uma forma muito particular. Não há regras, conselhos que sirvam para todos. Ao conviver com a perspectiva da morte, porém, muitos doentes crônicos parecem se liberar de exigências sociais que simplesmente deixam de fazer sentido.

Muitos perdem a vergonha de se emocionar publicamente. À medida que se relacionam com a ideia da morte se tornam mais gente. Adquirem vários direitos. Inclusive o de ser piegas. Não foi por acaso que a jornalista Eliane Furtado fez das músicas do cantor Barry Manilow a trilha sonora de sua batalha e de sua renovação. “Ele é brega, é um Wando americano, mas eu adoro”, diz.

A vida e as peças que ela prega... Eliane nunca foi fã de Barry Manilow. Em dezembro de 2006 estava em Las Vegas com o marido e, pelo sim, pelo não, resolveram conferir um show do cantor. Adoraram. Foi um momento de grande felicidade. No mês seguinte, Eliane descobriu o câncer. Durante toda a batalha, ouviu Barry Manilow. Nas sessões de quimioterapia, cumpria sempre o mesmo ritual: o cateter na veia e Barry Manilow no Ipod.

Se esse tipo de música nunca fez a cabeça de Eliane, por que Barry se transformou num apoio num momento de fragilidade? A psicanalista Maria Teresa tem uma interpretação. “Eliane se apegou a algo que era anterior à doença. Barry Manilow a remete a um tempo em que a vida andava de vento em popa. Ele nem sabe, mas serviu como um objeto transacional. Barry a ajudou a sair de uma situação adversa e a encontrar aconchego”, diz Maria Teresa.

Nos últimos três anos, Eliane voltou aos Estados Unidos para assistir a outros shows do cantor. “Meus amigos intelectuais dizem que suportam ouvir tudo de mim, menos Barry Manilow”, diz. Ela não se importa. Diz que precisamos de ilusões, de sonhos, de coisas que nos mantenham vivos. Alguém discorda?

“No próximo show, vou levantar um cartaz pedindo que ele dance comigo”, diz. “Não tenho mais nenhuma satisfação a dar. Só tenho que viver.”

fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI140154-15230,00-O+FACEBOOK+E+UMA+TERAPIA.html

terça-feira, 4 de maio de 2010

Redes Sociais

É, eu gostava mais quando tinha meus amigos próximo o suficiente para sentir o perfume de cada um. Hoje tenho todos em várias redes, mas na verdade não tenho nenhum!
Estamos fazendo o caminho inverso dos homens das cavernas. Estamos nos isolando.